sexta-feira, 22 de janeiro de 2016

Olhares - parte II

Voltei a minha cidade natal a uns 5 meses
Cidade essa q nunca me tratou bem mas foda-se
Isso só me deixa mais forte e com mais ódio dela
Agora é sexta de manhã, antes do meio dia
Vim ao grande mercado da região
Comprar ração p os meus gatos
Q se multiplicam rápido e comem bem p isso
Perguntei a minha sofrida mãe se queria algo daqui
Nada mais justo tendo em vista q ela não me cobra nada, nem aluguel nem presença
Ela disse q queria alguma carne p almoço
Vim, escolhi a ração q os bichanos amam
Um saco de 3 kg e um lata de patê
Escolhi alguns pacotes de carne já embalada
Me dirigi aos caixas, com pouquíssimas filas, dada a hora do dia
Pensei q isso depois das 18 estará um inferno
Pensei q quem trabalha aqui, mesmo sendo altamente explorado e mal pago, deve preferir o dia cedo q a tarde, onde o movimento se torna caótico
Passei pela geladeira e peguei uma garrafa de 600 ml de cerveja - bem gelada
Paguei e fui p rua
Tudo em sacolas, menos a garrafa q levei na mão
Ao passar pela porta, me escorei na parede, a sombra, e abri a garrafa
Meu chaveiro tem um abridor, foi a melhor aquisição física desse ano q passou a pouco
Ali tomei uns goles enquanto arrumava as compras na mochila, pois vim de bicicleta p sentir o vento no rosto
Arrumei tudo no chão mesmo
Logo me ergui e me dei o luxo de saborear mais essa cerveja - ainda gelada - a sombra
Os olhares, das famílias entrando ao mercado, eram os mais condenadores possíveis
Provavelmente me julgando alcoólatra
Estou acostumado a esses olhares
Mas como disse, aqui é minha terra natal
Conheço, ao menos de vista, muita gente
Por sorte poucos falam comigo
Então, eu de pé a sombra, saboreando a cerveja
Passam na sequência 3 casais, "monogâmicos" e heteros por mim
Dois eu estudei com os homens e um com a mulher
Mesmo com quem eu não estudei, provavelmente me conhecia de vista por minhas tatuagens mal feitas me destacar na multidão
Me olhavam me desprezando
Com nojo de mim
Repudiando a minha existência
Eles casados a anos
Com pessoas q não amam
Com óbvias traições acontecendo de ambos os lados
Com filhos mal educados q não os amam tmbm
Prestações eternas de bens q não duram eternamente
Atolados na sociedade q só cobra valores e bens e não t da nada em troca
Essas mesmas pessoas me olham como se eu afrontasse a vida delas
Como se eu fizesse troça de ignorar praticamente todos esses valores
Estão numa vida pesada e nem se deram conta de como chegaram lá
Eu sei de cada passo q dou
Ao menos tento calcular
E estou feliz apenas com minha cerveja antes do almoço
A sombra fresca e observando tudo isso
Eu julho essa gente apenas incapaz e manipulada
Nem consigo me irritar com isso
Apenas sei q se isso for o paraíso q eles procuram
Eu quero ir bem fundo no inferno p ficar bem longe disso
Mas tmbm penso q os olhares sejam de inveja
Pq eles queriam estar aqui no meu lugar
Mas é tarde
Estão presos e se amarrando mais a um mundo q não permite a saída deles
E eu?
Vou p casa alimentar os gatos e almoçar com minha mãe
A vida é muito curta p se apegar a olhares assim
Bom dia Nadal

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